quarta-feira, janeiro 19, 2011
I'M STILL HERE:Título:
I'm Still HereRealizador: Casey Affleck
Ano: 2010

Em 2008, contra todas as previsões, Joaquin Phoenix anunciou ao mundo que se iria retirar da representação para se dedicar ao hip-hop. A justificação? Phoenix estava cansado da fama e sucesso e queria ser ele próprio. De repente, o mundo ficou boquiaberto. E, pouco depois, quando este começou a aparecer em público de forma desleixada (
tu não desististes do cinema, desististe foi da tua higiene pessoal, atirou-lhe David Letterman às tantas), com ar de drogado e falando à arrumador de carros, toda a gente temeu que o actor atormentado seguisse os passos do seu irmão, River, e se perdesse para sempre. No entanto, Casey Affleck andava sempre atrás com uma câmara de filmar e, como o povo não é parvo, toda a gente viu que aquilo não passava de uma farsa. Assim, depois do choque inicial, o pessoal riu da piada e deixou de ligar.
Phoenix e Affleck não desistiram, insistiram na piada e levaram-na até ao fim, até não a conseguirem esticar mais. E quando já ninguém se lembrava deles, lançam
I'm Still Here, filme que regista esse ano de mudança de Phoenix. Como ninguém lhes estava a ligar nenhuma, anunciaram então ao mundo - e sem qualquer spoilers alert - que tudo tinha sido uma partida. Por isso, ver agora
I'm Still Here é como ver
O Sexto Sentido sabendo que Bruce Willis é um fantasma ou que o Edward Norton e o Brad Pitt são a mesma pessoa, no
Clube De Combate.
Assim,
I'm Still Here é uma performance a Andy Kaufman. Sob o pretexto de fazerem uma sátira ao universo das celebridades, ao mundo vampiresco dos tablóides e à exploração exaustiva das estrelas, colocando-se eles próprios à análise sobre-exaustiva do público, Joaquin Phoenix e Casey Affleck embarcam num mockumentário de situações e personagens reais.
I'm Still Here não foge, portanto, a parentes próximos como
Borat ou
Brüno, mas procura ser mais arrojado, pois implica que o seu protagonista - Phoenix, claro - transforme a sua própria vida no filme.
A ideia é boa, admitimos, e eu até gosto particularmente deste tipo de mockumentários. Também temos que louvar a coragem. Mas
I'm Still Here não funciona. Quer dizer, funciona, mas apenas nos momentos em que Joaquin Phoenix interage em situações reais e não forjadas. Como na
mítica entrevista ao David Letterman, que correu mundo no youtube e que levou Ben Stiller a proporcionar-nos
um dos melhores momentos da história da cerimónia dos Oscares, ou as aparições públicas em concertos desafinados que, invariavelmente, não passavam do primeiro tema. E, mesmo assim, nem tem tanta piada assim, porque Phoenix criou um boneco giro, mas depois nem se esforça, limita-se a sê-lo e a ver o que acontece. A excepção é a tal cena no talk-show do Letterman, mas porque quem tem graça é o David Letterman e não Joaquin Phoenix.
Quanto ao resto de
I'm Still Here é apenas um apanhado de cenas banais e, a maioria, aleatórias, de Joaquin Phoenix a drogar-se, a contratar prostitutas, a discutir, a ficar cada vez mais gordo, a ficar cada vez mais barbudo e, especialmente, a falar muito sem se perceber nada do que diz. Casey Aflleck confessou-se influenciado pelo trabalho de Gus Van Sant, com quem trabalhou no contemplativo
Gerry, e nós percebemos porquê.
I'm Still Here lembra-nos o cinema alheado de Gus Van Sant e ver Joaquin Phoenix perdido faz-nos lembrar Michael Pitt a deambular por
Last Days - Últimos Dias. Mas em pior.
I'm Still Here é, portanto, uma piada sem graça e esticada por mais de hora e meia.
E Joaquin Phoenix perdeu um ano de vida para fazer este Happy Meal que nem quinhentos paus vale.
Posted by: dermot @
4:59 da tarde
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