quinta-feira, abril 29, 2010
MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA:Título:
Matou A Família E Foi Ao CinemaRealizador: Júlio Bressane
Ano: 1969

Anda eu a ler umas coisas sobre o cinema marginal brasileiro - subgénero do cinema novo (o equivalente brasileiro à nouvelle vague), mas ainda mais radical -, quando dei de caras com este
Matou A Família E Foi Ao Cinema. O que me chamou a atenção não foram as críticas positivas, que o tomam como o maior exemplo de cinema marginal, mas sim o facto de ter um título que podia muito bem ser a manchete de capa do Correio da Manhã. Por isso, toca a ver no que é que isto dá.
Matou A Família E Foi Ao Cinema foi realizado em 12 dias por Júlio Bressane, que na altura tinha apenas 23 anos. Filmado a preto e branco, com som directo que é mais ruído do que outra coisa, muitos planos desfocados e a maioria dos actores dignos de um casting de um filme porno dos maus. Quanto à história é uma espécie de filme-mosaico (que abre com a tal peça de um jovem que degola os pais, aparentemente sem razão, e depois vai calmamente ao cinema), de histórias normalmente trágicas, sem relação entre elas, mas com os mesmos actores (nunca se percebe se são ou não as mesmas personagens) e que insinua levemente que estamos a ver um filme dentro do filme (o filme que o jovem vai ver ao cinema pode ser (ou não) uma das histórias paralelas). Mais do que experimentalismo,
Matou A Família E Foi Ao Cinema é todo ele niilismo.
Atirando a cartilha de
Como fazer cinema às urtigas, Júlio Bressane ensaia um cinema estética e formalmente novo e original. Com a liberdade orgânica do cinema de Jodorowsky (existem também uns pozinhos de surrealismo),
Matou A Família E Foi Ao Cinema detona todas as convenções narrativas, viola à bruta outras tantas convenções de edição e mistura com igual à-vontade cenas de uma violência gráfica austera (como um Michael Haneke ou um Gaspar Noé primitivo) com cenas de uma quotidiano mundano brutal (olá João César Monteiro).
Há ainda uns interlúdios musicais e algumas cenas de dança que, aparentemente, servem sobretudo para dar tempo de antena à música popular brasileira (Roberto Carlos na fase boa, Mário Reis ou a nossa Carmen Miranda). Filme pouco convencional, é demasiada diarreira mental para o meu gosto. A favor tem, felizmente, o facto de só ter uma hora de duração. E é assim, tão subjectivamente, que eu justifico os meus Cheeseburgers. Bem mais interessante parece ser o
remake de 1991, em formato sexploitation.
Posted by: dermot @
9:05 da manhã
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