quarta-feira, janeiro 05, 2011
DORIAN GRAY:Título:
Dorian GrayRealizador: Oliver Parker
Ano: 2009

O Eça de Queirós inglês, Oscar Wilde, é um dos dez maiores escritores do Mundo. Do Mundo não, do universo, que é para verem a consideração que tenho pelo homem. E
O Retrato de Dorian Gray, apesar de ser o seu único romance, é um livraralhão. Por isso, quando estreia uma adaptação cinematográfica do livro, com um elenco com caras conhecidas de Hollywood (Colin Firth à cabeça) e este passa praticamente despercebido é poque algo se passa. Mas como eu um tipo tolerante, toca lá a dar uma chance a
Dorian Gray.
Para quem não sabe, Dorian Gray (aqui interpretado por Ben Barnes) era um tipo da Inglaterra vitoriana extremamente belo - o terror das mulheres, mas também dos homens, que o diga o seu amigo, Basil Hallward (Ben Chaplin), um pintor gay reprimido que, obcecado pela beleza de Gray, pinta-lhe um retrato super-realista. Tão realista que, numa variação do mito de Fausto, Dorian Gray troca a alma pela do quadro, podendo assim entregar-se a uma vida de vícios (drogas, tabaco, putas e orgias onde vale tudo), com o quadro a envelhecer no seu lugar. O seu outro amigo, o insolente Henry Wotton (Colin Firth), é que fica a roer-se de inveja por vê-lo a viver a vida que não teve a coragem de viver. Carpe diem muthafucka, qual
O Clube Dos Poetas Mortos qual quê.
Claro que depois, tal como Fausto, Dorian Gray vai arrepender-se da sua juventude eterna, vendo-se a braços com um dilema: se não morro nem envelheço, que raio faço da minha vida? Infelizmente,
Dorian Gray ignora esta parte mais metafísica (a excepção é a excelente citação
alguns prazeres só o são por serem fugazes), ficando-se antes por uma abordagem muito superficial. O realizador, Oliver Parker, aposta tudo no terror e no thriller psicológico, mas esquece-se que há mil coisas como estas. E melhores. Por isso, o filme chama-se apenas
Dorian Gray, abolindo a parte de
O Retrato De, na decisão mais acertada de toda esta produção, uma vez que, aqui, este é apenas um acessório da intriga, quando o romance original se desentola todo em sua função.
Com uma primeira parte mais ou menos simpática, os últimos dois terços de
Dorian Gray são passados em sofrimento. Ciente de que prdera a tensão do início do filme, Parker inventa um relacionamento amoroso para Gray, metido à martelada. Além disso, cede à tentação de ir mostrando o retrato envelhecido e cheio do pecado de Gray, quando se sabe que o poder da sugestão é muito mais assustador do que qualquer velho em CGI a deitar larvas pelos olhos e a gemer, como se tivesse comido um puré de batata estragado ao jantar.
Por fim, lamentar o erro de casting de Ben Barnes. Quando lemos o romance, Oscar Wilde gaba tanto Dorian Gray que quase sentimos vontade de nos apaixonarmos por ele. Por isso, quando vemos um canastrão como Barnes, com uma expressividade facial que se limita a boca aberta e boca fechada, não conseguimos evitar um enorme facepalm. Inacreditavelmente, Dorian Gray acaba por não ser tão mau quanto eu o estou a pintar e consegue sobreviver no limiar do suportável. Vale assim um Double Cheeseburger, mas mal aviado.
Posted by: dermot @
10:14 da manhã
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