terça-feira, abril 17, 2007
O HOMEM DUPLO:Título:
A Scanner DarklyRealizador: Richard Linklater
Ano: 2006

Philip K. Dick está para a literatura de ficção-científica, assim como Stephen King está para a literatura de terror. Contudo, ao contrário do Mestre do Terror, Philip K. Dick tem tido muito mais sorte com as adaptações dos seus livros ao grande ecrã (alguém referiu
Relatório Minoritário ou
Blade Runner - Perigo Iminente?).
O Homem Duplo é uma das mais inspiradas obras do autor norte-americano, que chega finalmente ao cinema, não pela mão de Terry Gilliam, mas de Richard Linklater, explorando uma tecnologia nova e inovadora - uma espécie de animação, feita por cima da própria imagem real. Entendido por muitos como uma simples e censurável apologia às drogas,
O Homem Duplo é, pelo contrário, uma crítica feroz às drogas e como ela é tratada pelo governo e a sociedade, que encara os drogados como criminosos e não doentes. Além disso, cria ainda um excelente ensaio sobre a temática da duplicidade, tantas vezes explorada no cinema (
O Inquilino, anyone?), e sobre a qual não me canso de referir este belo
texto do
Flávio.
Aconselho vivamente o livro, mas se forem à procura dele nas lojas, façam um favor a vocês próprios e não comprem nunca, repito,
nunca, a versão da Colecção Argonauta, que parece ter sido traduzida literalmente no translator do google. A sério.
Ambientado num futuro não muito longe do nosso (interessante pormenor dos telemóveis vendidos em embalagens e divertida referência a Di Caprio), onde mais de 20% da população é viciada num narcótico nova, a Substância D,
O Homem Duplo é a história do agente especial Bob Arctor (Keanu Reeves), que se infiltra num grupo de drogados para tentar descobrir deonde vem toda essa droga. Mas naquele futuro, os polícias usam a chamada "roupa da confusão", um fato que impede que a sua identidade seja revelada perante os demais agentes. E assim, por mero capricho do destino, Bob Arctor vai receber ordens para investigar... Bob Arctor.
O Homem Duplo é então duas histórias numa só: é uma experiência sensorial de altos e baixos na espiral da droga em que Arctor vai embarcar, lembrando filmes semelhantes como
Trainspotting; e um exercício existencialista sobre a duplicidade do Homem, sobre um indivíduo que leva uma vida dupla, espiando-se a si próprio, manipulando a sua vida para que os seus superiores não descubram que ele é o próprio drogado investigado e para que os seus amigos viciados não descubram que ele é um agente infiltrado.
Infelizmente, Linklater debruça-se demasiado na primeira parte, deixando um pouco abandonada a segunda. Existem alucinações e dificuldades em perceber o que é real e irreal, mas na maior parte das vezes é devido às drogas. Além disso, o filme é demasiao confuso para quem não está familiarizado com o livro e, por isso, exige uma segunda visualização para obtenção de novos dados.
Visualmente interessante e com algumas interpretações que fazem merecer o serão (Robert Downey Jr., por exemplo),
O Homem Duplo entretém, mas não deixa de soar um pouco a desilusão pela riqueza temática que o livro comportava; é mais por isso que se justifica o Double Cheeseburger. Curioso, é o facto de, tal como outros filmes que fazem apologia contra os estupefacientes (alguém mencionou
Festim Nu?),
O Homem Duplo fazer mais sentido quando visto sob o efeito de alguma droga...
Posted by: dermot @
2:55 da tarde
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