segunda-feira, fevereiro 13, 2006
BOM DIA VIETNAM:Título:
Good Morning, VietnamRealizador: Barry Levinson
Ano: 1987

Robin Williams é um grande actor e um dos mais divertidos da sétima arte. Se no entanto o uso de superlativos nestas definições pode levantar vozes mais discordantes, noutra é indiscutível: Robin Williams é o actor mais versátil do cinema! E
Bom Dia Vietnam foi a oportunidade perfeita para conjugar estas duas facetas.
A actuação de Robin Williams neste filme não é páreo para um dos seus típicos espectáculos de stan-up comedy, registados no hilariante DVD
Ao Vivo Na Broadway (que recomendo vivamente). Por si só vale o Royale With Cheese; mas existe mais qualquer coisa, aquilo a que conhecemos como argumento.
Bom Dia Vietnam é uma comédia dramática, um daqueles tipo de filmes que Hollywood sabe fazer tão bem e que alcança todos os tipos de público: engana os menos atentos e empolga os mais populares. Com jogos de cintura gingão e uma ponta de feel-good movie,
Bom Dia Vietnam conta uma história triste de forma divertida e ligeira, preenchendo-a com comédia e romance em quantidades iguais. E claro, no fim há o tearjerker obrigatório. Mas ao contrário do que pode estar a parecer
Bom Dia Vietnam não é um mau filme, antes pelo contrário.
Adrian Cronauer (Robin Williams) é um eloquente e divertido locutor de rádio que é destacado para a rádio do Vietnam. Cronauer é uma daquelas pessoas que usa o humor para tudo, inclusive para se refugiar nos momentos desconfortáveis. Por isso, há certas pessoas que o levam a peito; é que já diz o adágio, mais vale cair em graça do que ser engraçado. E Cronauer vai criar inimigos nas altas instâncias do exército: primeiro, pelo seu humor desbragado; segundo, pelo rock'n'roll que passa; e terceiro, pelas notícias que emite, evitando a censura do lápis vermelho. Mas Cronauer tem todos os soldados do seu lado, que o adoram. E o povo unido jamais será vencido. Ou então não...
Depois há ainda uma história de amor proibida entre Cronauer e uma vietnamita e uma amizade perigosa. Mas o que há sobretudo é uma excelente metáfora ao conflito do Vietnam por parte do realizador. Às tantas, Cronauer exclama a Garlick (Forest Whitaker) ao verem-se perdidos na selva: "Como é possível fazer uma guerra no meio desta merda? Não sei onde estou, é como andar à caça com o Ray Charles". Depois, no diálogo chave do filme, o amigo vietnamita de Cronauer confronta-o com o facto de quem é o verdadeiro inimigo: os vietcongues que explodem as bases americanas, ou os soldados americanos que matam os inocentes vietnamitas? Os dois, como numa guerra sem sentido.
Bom Dia Vietnam é um filme algo ligeiro com momentos de verdadeiro cinema, principalmente os mais subtis, como quando as sequências do quotidiano militar ao som de rock'n'roll são comparadas com as outras, monótonas e banais, ao som de polcas monocórdicas, como num filme mudo de Buster Keaton. No entanto, a excelência vai inteirinha para uma das mais memoráveis sequências dos filmes de guerra: aquela em que o tema de Louis Amstrong,
What A Wondeful World, ilustra uma série de imagens de guerra violenta, como uma poesia de sangue.
Bom Dia Vietnam era em situações normais um filme para o McChicken. No entanto, com uma actuação genial, de rir a bandeiras despregadas, de Robin Williams (um membro do sistema a tentar alterar as regras pré-estabelecidas faz lembrar alguma coisa?
Clube Dos Poetas Mortos anyone?), vai até ao McBacon. E agora antes de irmos, um exercício. Experimente ver o filme, ler este texto e depois substituir a palavra Vietnam pela palavra Iraque. Encontra diferenças?
Posted by: dermot @
11:54 da tarde
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